* por Mariano Sumrell, via Canaltech
Hoje em dia, grande parte dos dispositivos “wearable” (termo que significa tecnologias para vestir) dos quais temos conhecimento está limitada a relógios inteligentes ou dispositivos para a prática de esportes, mas há muito mais tecnologia – e tecnologias mais úteis – por vir. Acredito que nos próximos anos esse tipo de tecnologia será muito mais diversificada e presente em nossa vida cotidiana.
Com alguns especialistas da indústria projetando vendas de 171 milhões de unidades em meados de 2016, esse tipo de dispositivo possivelmente se infiltrará de forma muito variada, atingindo diversos aspectos de nossa vida pessoal, do fitness aos serviços de saúde, da medicina aos cuidados com o bem estar, sem contar os setores de informação e entretenimento.
Por trás desse cenário de otimismo, no entanto, estão os crescentes relatos de consumidores relutantes em aceitar essa nova tecnologia. Estudos apontam que problemas de compatibilidade, efetividade e barreiras psíquicas e socioeconômicas são algumas questões que podem impedir a adoção dessa tecnologia.
Graças à importância dada por usuários e pela indústria nos últimos anos, a privacidade também é entendida como uma das maiores preocupações dos consumidores. O rápido crescimento no uso de wearables e implantes tecnológicos continuará a aumentar o volume de dados pessoais armazenados. Combine isso à nossa vida que parece eternamente online e veremos que o risco de nossa identidade e privacidade atingirá níveis sem precedentes.
Mas qual é, de fato, a escala de oportunidade atual para wearables? Estamos mesmo preparados para essa nova tecnologia?
Qual o tamanho da oportunidade?
Com diversas empresas disputando a criação da “grande inovação”, grandes nomes trabalhando com foco no mercado de wearables se multiplicam. A empresa de Business Inteligence Berg Insight prevê vendas globais de 64 milhões de dispositivos wearable em 2017. Apesar de haver divergências quanto ao exato índice de crescimento, a única certeza que se tem é de que as oportunidades são enormes e o crescimento dessa demanda virá de uma audiência variada, com três principais drivers: consumidores, empresas e o setor de saúde.
1. Demanda do Consumidor
Para os consumidores, os dois mercados de wearables mais estabelecidos atualmente são o fitness (bem estar e dispositivos de controle pessoal de saúde), e eletrônicos de “infoentretenimento” (palavra que vem da junção de ‘informação’ e ‘entretenimento’), como os relógios inteligentes (smart watches).
Impulsionados por uma série de fatores, desde a preocupação dos consumidores com questões de saúde até a busca pelo corpo perfeito, a expectativa é que apenas com wearables de fitness e saúde o crescimento do faturamento passe de US$ 1.6 bilhão em 2013 para US$ 5 bilhões em 2016. Apple, Samsung e Microsoft já estão na disputa pelo mercado wearable, e o Google acaba de pedir autorização de comercialização de seus óculos inteligentes no Brasil.
2. Demanda das Empresas
Os wearables representam a nova fase na revolução mobile e serão determinantes para o crescimento em larga escala nos próximos anos, tornando-se um trunfo crucial para as empresas. Na última ‘Consumer Electronics Show 2014’, realizada em janeiro, os wearables voltados para negócios foram apresentados como ferramentas ideais para setores como saúde, segurança do trabalho e varejo. Essas soluções incluem aparelhos para controle dos níveis de atividades de colaboradores visando reduzir taxas de seguros, sensores químicos para ajudar em primeiros socorros e sensores de identificação de mudanças climáticas para usos militares, além de dispositivos de comunicação que podem ser acionados sem o uso das mãos (hands-free).
3. Demanda da área da Saúde
Há várias áreas na esfera pública em que os wearables podem ser úteis, no entanto é no setor de saúde, e mais especificamente na área de cuidados com idosos, que reside o maior potencial de uso. Com a expectativa de vida crescendo em todo o mundo, os custos com saúde vêm aumentando consideravelmente e esse é um problema particularmente grave nos países da Europa Ocidental, onde existe uma grande proporção de pessoas com mais de 65 anos. Os wearables têm potencial para revolucionar os custos da área de saúde, permitindo que o monitoramento e os cuidados com o organismo possam ser feitos de casa em vez de unidades de saúde.
Em 2012, o mercado mundial de wearables médicos atingiu a marca de US$ 2 bilhões e a expectativa é de que chegue a US$ 5,8 bilhões em 2019. Mas uma penetração mais expressiva depende da boa vontade das instituições de saúde em divulgá-los, assim como das seguradoras em financiá-los.
Principais barreiras
Apesar de todas as estatísticas e números citados, uma pesquisa recente, realizada pela Harris Interactive com 2.500 pessoas nos EUA, mostra que apenas 3% dos usuários de Internet norte-americanos possuem hoje qualquer wearable ou dispositivo inteligente. A pesquisa mostra ainda que 36% acreditam que um dia poderão utilizar um desses dispositivos, mas 19% disseram que nunca consideraram comprar um wearable. Quase três quartos dos entrevistados disseram ter pelo menos uma preocupação em relação a esse tipo de aparelho, sendo preço, privacidade e real utilidade as questões mais levantadas.
No que diz respeito à segurança, a prioridade nos próximos anos deve ser focar na total transparência e padronização sobre quais dados estão sendo coletados por esses dispositivos, como estão sendo usados, e como os usuários poderão manter o controle sobre sua privacidade. Assim como trabalhamos hoje com soluções que geram proteção à privacidade de nossos clientes em dispositivos não-vestíveis, precisamos pensar em soluções para todos os tipos de dispositivos conectados que possam surgir no futuro, de forma que o controle de privacidade se torne algo independente de dispositivo ou de nível de conexão.
Está muito claro para que os wearables trarão uma mudança inevitável muito importante para nossas vidas no futuro, e têm, sem dúvida, o potencial de fornecer benefícios para inúmeros setores. Mas uma ampla aceitação dependerá da demanda real pelos serviços oferecidos, e se realmente queremos ver essa tecnologia se desenvolver, a indústria precisa dissipar as preocupações que ainda existem em torno de seu uso e trabalhar as várias barreiras para adoção. Somente assim os consumidores e empresas realmente irão abraçar o fenômeno da tecnologia wearable.
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